sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Para a minha conceptura

Quanto mais penso no assunto, mais concluo que o meu mal reside na educação que a minha mãezinha me deu. Não que ela o tenha feito por mal, coitada, longe dela. Ela simplesmente ensinou aquilo que lhe tinham ensinado a ela.

Ora, como qualquer pessoa que tenha tido Psicologia no secundário sabe (que mais do que isso não é preciso), aquilo que se aprende em pequeno fica sempre gravado bem lá no fundo do espírito - lá dizia a outra esperta que "de pequenino é que se torce o pepino". E os primeiros ensinamentos são os que ficam. Mesmo quando crescemos e criamos em nós outras crenças e ideologias, o que nos foi ensinado primeiro continua enraizado. Só as gerações seguintes se podem salvar. E eu faço questão de salvar a minha filha.

Filha minha há-de perceber, compreender e distinguir coisas que eu só sei fazer em teoria. Tudo aquilo que eu ando por aí a propagandear e que depois não sei praticar, filha minha saberá. E não terá bichinhos interiores, como eu tenho, a carregarem-lhe o espírito, porque eu tê-la-ei ensinado melhor.

Filha minha há-de divertir-se a valer, ao contrário de mim, porque saberá que existe uma diferença entre sexo e amor, e vai saber ver que uma coisa não tem nada a ver com a outra. E vai saber que pode ter uma sem ter a outra. Claro que também lhe vou explicar que as duas coisas conjugadas são o ideal a atingir, mas também vai saber que o óptimo é inimigo do bom.

Todo este pragmatismo que eu propagandeio mas não pratico porque, algures entre o bife e as batatas, alguém me disse que isso era muito feio, a minha filha vai poder pôr em prática. Porque eu nunca direi que é feio, errado ou mau. Direi sempre que aquilo que ela quer é que é muito bom.

Porque tudo aquilo que eu agora não sei fazer, a minha filha vai saber que, se quiser, pode fazer. E que isso só lhe faz bem.

A minha filha há-de saber ser feliz com aquilo que tem, sabendo sempre que pode sempre ter o pacote todo. Vai saber que se quiser pode ficar-se pelo imediato e esperar o tempo certo pelo mediato.

Eu não sei fazer nada disto, mas a minha filha há-de saber.

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