sábado, 10 de setembro de 2011

Meia Dúzia

 "Outro desencanto e encanto eram as querelas. Lévin nunca teria imaginado que entre ele e a mulher pudesse haver outras relações que não as de ternura, de respeito e de amor. E de repente, logo nos primeiros dias brigaram, de tal modo que ela lhe disse, chorando e agitando os braços, que ele não a amava, que se amava apenas a si mesmo.
 Essa primeira querela deu-se porque Lévin se deslocou à nova granja e demorou mais meia hora do que esperava, porque quis passar pelo caminho mais curto e se perdeu. Ao voltar para casa só pensava nela, no amor dela, na sua felicidade, e quanto mais se aproximava mais se inflamava nele a ternura por ela. Entrou a correr no quarto com o mesmo sentimento, ainda mais forte, com que chegou a casa dos Scherbátski para fazer o pedido de casamento. E de repente foi recebido com uma expressão sombria como nunca vira nela. Quis beijá-la, mas ela rejeitou-o.
 - Que tens tu?
 - Estás muito alegre... - começou ela, desejando ser calma e venenosa.
 Mas assim que abriu a boca, logo as palavras de censura ditadas por um ciúme insensato, tudo aquilo que a atormentara durante aquela meia hora que passara imóvel sentada à janela, lhe escaparam. 
 (...)
 Fizeram as pazes. Ela, reconhecendo a sua culpa mas sem o dizer, foi ainda mais terna para com ele e ambos sentiram uma felicidade nova, a redobrada felicidade do amor. Mas isso não impediu que essas confrontações se repetissem e até com especial frequência, pelos motivos mais inesperados e insignificantes. Essas confrontações ocorriam com frequência porque eles ainda não sabiam o que era importante para o outro, e também porque durante aqueles primeiros tempos ambos andavam muitas vezes de mau humor. Quando um estava de bom e o outro de mau humor, a paz não era quebrada; mas quando estavam os dois de mau humor, as confrontações aconteciam por causas tão incompreensíveis pela sua insignificância que eles depois nem conseguiam lembrar-se porque se tinham zangado. É verdade que quando estavam ambos de bom humor a sua alegria de viver redobrava".

in "Anna Karénina", Lev Tolstoi


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