Agora que um novo aniversário está aí à porta, há uma coisa que me preocupa, que vai roendo.
Há não muito tempo atrás, eu não conseguia comprar um par de meias sozinha. Não ia a um café sozinha. Não tinha em mim a capacidade de fazer nada sozinha.
Mas, lá está, o Homem é um animal de costumes (e, como de costume, é também um animal), e uma pessoa habitua-se a tudo. E habitua-se a desenrascar-se, a safar-se, a desenmerdar-se.
A hora do almoço é particularmente sofrível. A ideia de que meio mundo me está a ver a comer (o que é ridículo, as pessoas têm mais que fazer), é-me algo tormentosa e nunca soube contorná-la.
Agora, no entanto, dou por mim a comprar bilhetes para filmes que vejo sozinha: pipocas para um, filme para um. Agora, dou por mim a pedir a tigela de sopa sozinha, enquanto faço as palavras cruzadas do metro (que, por sinal, são sempre iguais).
Seria de pensar que estou crescida, que aprendi a fazer estas coisas todas sozinha.
Atormenta-me, no entanto, a ideia de me ter habituado.
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